A exposição de fotografias Caligrafias na Água compõe um “texto” de reflexões a partir das imagens obtidas daquele que terá sido o primeiro espelho do homem – a água.
O reflexo, imagem do outro, sempre constituiu matéria do campo científico, espaço de análise e especulação filosófica. Platão “admite que o reflexo, pela sua própria imaterialidade e semelhança, se presta a outro conhecimento” e, daí, até ao distanciamento da aparência e do simulacro, o homem introduz o fenómeno cultural que, pela ação do inteligível, da tensão entre natura e cultura, subverte a ótica mimética do plágio, para armadilhar a imagem do reflexo, acrescentando-lhe metáfora e valoração estética. Como refere Damásio, “a imagem ótica para na retina”, o seu conteúdo é levado ao cérebro, através dos neurónios, conformando o olhar com a individualidade da interpretação da visão, entrando em cena os vários constituintes, que permitem formar e diferenciar a autonomia criativa.
Deste modo, Jorge Costa, não enjeitando a sua formação de arquiteto, diferencia o olhar, do modelo, afasta-se da imagem construída pela natureza, desinteressa-se pela plasticidade da paisagem enquanto aguarela fantasiadora, para enformar outra geografia ao espaço captado, para criar o seu próprio léxico, com os signos da sua auto decifração.
Aníbal Lemos Salreu, 3.5.2017